
Cláudio Santos
Cidadão com surdez
Cidades inclusivas: pensar o futuro com e para as pessoas surdas
1. Que tipo de cidade devemos desenhar para as novas gerações?
A cidade das novas gerações deve ser pensada para todos, sem exceção. Para as pessoas surdas, isso significa uma cidade acessível em múltiplas dimensões: comunicação, mobilidade e participação cívica. Espaços públicos, serviços de saúde, educação e cultura precisam integrar a Língua Gestual Portuguesa e outras ferramentas inclusivas, como legendagem em tempo real e tecnologia de apoio. Uma cidade inclusiva não se limita a eliminar barreiras, mas garante que cada cidadão, surdo ou ouvinte, possa exercer plenamente os seus direitos e viver com autonomia.
2. Que ligações comunitárias são essenciais para reforçar o sentimento de pertença e a coesão social?
A pertença nasce quando todos podem comunicar, partilhar e participar. Para reforçar o sentimento de comunidade, é fundamental que haja espaços onde a língua gestual seja valorizada e reconhecida como parte integrante da diversidade cultural. A promoção de eventos culturais e desportivos acessíveis, programas intergeracionais e a criação de redes de apoio comunitário onde a comunicação não seja uma barreira são passos essenciais. Quando ouvintes e surdos têm oportunidades reais de interagir em condições de igualdade, a coesão social torna-se mais forte e a comunidade mais rica.
3. Que compromissos globais devem ser incentivados pelos decisores políticos para garantir um futuro sustentável?
Os compromissos políticos devem ir além da sustentabilidade ambiental e incluir a sustentabilidade social. A nível global, é urgente que os decisores reforcem políticas de inclusão que assegurem o cumprimento da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU. Isso implica garantir educação bilíngue (língua oral e língua gestual), promover a acessibilidade digital e física em todos os serviços públicos e apoiar a representatividade das pessoas surdas nos espaços de decisão. Só assim será possível construir cidades justas, onde cada voz - falada ou gestual - tenha peso e significado.
Conclusão:
O futuro das cidades será verdadeiramente sustentável apenas se for inclusivo. A cidade que desenharmos para 2030 deve ser aquela onde uma criança surda possa aprender e brincar sem barreiras, onde um jovem surdo possa participar plenamente na vida cultural e política, e onde um adulto surdo possa aceder a serviços e oportunidades em igualdade de condições. Incluir as pessoas surdas não é um gesto de caridade, mas um ato de justiça e uma forma de enriquecer o coletivo.