
Fernando Ventura
Uma tarefa e um desafio de hoje.
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Somos habitantes do tempo que é hoje, herdeiros do ontem que outros construíram e construtores do amanhã que já não habitaremos mas onde outros construirão o seu hoje que será habitado por outros amanhãs…
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Somos pontos de chegada e pontos de partida. Somos pontos de chegadas de todas as experiências de vida(s) e de fé(s) que nos precederam e, oxalá, sejamos todos pontos de partida para novas experiências de vida(s) e novas experiências de fé(s).
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É esta a tarefa que nos toca; a de ser hoje a fugacidade de uma história que não começou em nós, que não terminará em nós, mas que nos é confiada, para construir no tempo, dimensões de amanhã e, por isso mesmo, dimensões de eternidade tecida nas teias e nas tramas do nosso já e ainda não, na polis lugar de vida(s), de esperanças, de sonhos e de histórias a construir. É esta a nossa tarefa e desafio!
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Em tudo isto há uma feliz condenação que nos alcança, a da descoberta do sentido último de tudo, de todo este nosso ser ao mesmo tempo fugaz e fundamental. Esse sentido último de tudo, só será verdadeiramente encontrado no devir de uma tarefa que é ao mesmo tempo uma violência e uma glória; violência que vai contra o nosso solipsismo inato e glória alegre da vitória na luta que cada dia nos toca combater, justamente contra o nosso “eu” tendencialmente solitário e fechado em si, que um dia, na cidade do amanhã a construir hoje como tarefa, há-de florescer num “nós” de solidariedade e de fraternidade.
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É esta a condenação que nos alcança… tem de ser este sonho lindo de amanhã o que anima. Tem de ser este sonho lindo de amanhã o que procuramos viver hoje, neste hoje que já não é, mas que é construção de um amanhã onde já não seremos, mas onde estaremos para além do tempo, para além da história, na meta-história do tempo intemporal, tempo da profecia de cada hoje que vive no presente, sendo memória do passado para lançar pontes de esperança para o amanhã.
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Se assim não fosse, se não for “assim”, no amanhã que sonhamos, nessa cidade do futuro, existiria só uma espécie de passado recauchutado, sem memória, sem raízes, sem gente dentro, essa gente que habita dentro de outra gente para além do tempo… seria só um
amanhã vazio de corações que se atrevem a bater ao ritmo do coração do outro… o pulsar fisiológico ainda que exista, seria só perturbado e “ritmado”, pelo ritmo da(s) ideologia(s) enquistadas, dominante(s) de cada agora, que não admitem contraditório, sem passado, sem memória, sem história… logo, sem futuro…
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Oxalá assim não seja!