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Irmã Lara
Religiosa de Maria Imaculada

Começo esta partilha por uma manifestação de interesses, chamo-me Lara, sou Religiosa de Maria Imaculada, e trabalho com jovens migrantes que procuram em Portugal e concretamente na cidade de Braga um trampolim formativo para o seu percurso pessoal.

 

Ao longo destes anos tenho acompanhado o contraste entre o sonho e o desamparo, nas histórias de travessias inacabadas, que sonham conseguir encontrar um lugar onde se possa dizer “esta é a minha casa”. 

Por isso, quando penso na cidade que devemos desenhar para as novas gerações, penso antes de tudo numa cidade que saiba e consiga (de verdade) acolher. Uma cidade com rosto humano, onde cada pessoa - vinda de perto ou de longe - encontre espaço para viver com dignidade e esperança.

No fundo, olho para trás, vejo Vicenta Maria, no século XIX, em Madrid, e reconheço que, apesar do tempo, enfrentamos a mesma sociedade fragmentada, acelerada e indiferente. No entanto, o coração humano - ontem como hoje - continua a desejar proximidade, pertença e sentido. É por isso que sinto que necessitamos de cidades que voltem a ser lugares de encontro: praças que convidem ao diálogo, escolas abertas à diversidade, comunidades que acolham a diferença como riqueza.


O urbanismo deve favorecer esta cultura do encontro - com ruas seguras para caminhar, espaços verdes que regeneram o corpo e o espírito, e casas acessíveis onde ninguém precise escolher entre a habitação e o futuro. 

No favorecimento da cultura do encontro, contribuiremos também o sentimento de pertença. Urge, portanto, cuidar das ligações invisíveis que sustentam a vida comum: o olhar que acolhe, a mão que ajuda, o gesto gratuito de quem partilha o pouco que tem.


Com os jovens migrantes aprendi que a comunidade não se mede pelo número de habitantes, mas pela profundidade dos laços. As políticas públicas podem oferecer infraestruturas; mas só o coração humano pode construir relações de confiança e solidariedade.


As cidades que queremos são aquelas onde ninguém caminha sozinho - onde as redes comunitárias e espirituais se entrelaçam para sustentar quem chega e quem recomeça; onde ninguém permanece invisível, nem ninguém é apenas um número, mas um ser com dignidade, querido e amado. 

O futuro sustentável que sonhamos não se garante apenas com tecnologia ou legislação, mas com uma conversão do olhar. Os decisores políticos devem assumir compromissos globais que promovam a justiça, a paz e o cuidado da Casa Comum - tal como nos recorda a Agenda 2030, a Laudato Si’ e a Fratelli Tutti.


Trata-se de educar para a responsabilidade planetária: cada gesto local, cada escolha consciente, cada ato de compaixão tem impacto global.


A cidade sustentável é também uma cidade espiritual, onde o respeito pela criação e pela dignidade humana são a base de todas as decisões.

Acredito que na cidade do futuro somos todos convocados a ser artesãos de esperança - aqueles que, silenciosamente, constroem pontes, curam feridas e plantam árvores que talvez nunca vejam florescer.


As novas gerações esperam de nós testemunho e coragem. Que lhes deixemos não apenas estruturas, mas valores; não apenas progresso, mas sentido; não apenas casas, mas lares.


Só assim poderemos legar às novas gerações não apenas cidades mais inteligentes, mas comunidades mais fraternas, onde o futuro se constrói com esperança e amor.

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